AEEEEEEEEEEEEEEEE, a lista está terminando! Falta só A Cidade e as Serras (que não parece ser tão chato assim e é totalmente adaptável aos dias atuais) e Sentimento do Mundo. Nesse ritmo termino até meados de outubro e tenho tempo de fazer resenhas de todos os outros o/
Enfim, vamos ao livro. A obra foi publicada em 1938, e é pertencente a segunda fase do modernismo, com características bastante regionalistas, de linguagem muito simples e fácil de entender. É uma narrativa na terceira pessoa (graças a Deus, se fosse um dos protagonistas ia ficar sem entender porra nenhuma rs).
Os personagens são pouquíssimos, mais se resumindo aos principais:
Fabiano: pai de família, era um vaqueiro castigado pela seca, ruivo e de olhos azuis (aí o cara voou, né). Não sabia se comunicar direito, e por isso sempre levava golpes de seu patrão. Se sentia como uma bicho, sem possibilidade de convivência na sociedade.
Sinhá Vitória: Mulher de Fabiano. Mais esperta que ele, sabia fazer contas e alertava à seu marido que ele estava sendo roubado nas contas do patrão. Também fala pouco, e seu maior sonho é ter uma cama de couro, igual a de seu Tomás da Bolandeira (o patrão deles anteriormente, que era nitidamente mais generoso).
Filho Mais Velho: Era muito curioso, mas tinha a mesma "limitação fonética" que os pais tinham. Queria saber o significado da palavra inferno.
Filho Mais Novo: Queria fazer algo que orgulhasse seu pai e deixasse seu irmão com inveja. Sonhava em ser vaqueiro como Fabiano
Baleia: A cachorrinha da família, adorada por todos. Era mais tratada como humana que os outros, inclusive tinha nome, coisa que os garotos não tinham. Obediente, sabia o seu lugar e esperava ansiosamente pelos seus ossos.
Resumo:
A narrativa começa com a família fugindo da seca. Andando sem rumo, sem comida, sem água... inclusive são obrigados a matar o papagaio de estimação por causa da fome. Quando não há mais nenhuma esperança, eles encontram um sítio abandonado e Baleia volta da caça com um preá. Eles acham um pouco de água e resolvem se instalar por lá. As chuvas chegam, e significam um novo recomeço. Fabiano decide ficar por ali e cuidar da terra como se fosse sua, mas um pouco depois o dono aparece e reclama a terra, mas Fabiano, através de sua linguagem pobre e cheia de gestos, consegue autorização pata trabalhar nela.
Ele ia levando bem a vida, apesar de ser simples. Mas quando vai a cidade um dia para comprar mantimentos, começa a se questionar. Após beber uma cathhaça, aceita jogar com um soldado amarelo, perdendo depois. Ele já vai indo embora, quando o soldado começa a provocar e Fabiano acaba preso. Enquanto é humilhado na cadeia, ele se questiona de sua situação e o porquê de ser tratado desse jeito. Logo conclui que é um bicho e não consegue conviver com outras pessoas além de sua família.
Sua mulher, Sinhá Vitória, estava feliz com a situação que estavam, mas só ficaria mais feliz ainda se conseguisse comprar a sonhada cama de couro, um sonho praticamente inatingível para eles. Os meninos viviam como pequenos animais, quase nus, se esfregando na lama e Fabiano começa a refletir que eles precisam de educação, já que ele não quer que as crianças cresçam como ele. O menino mais velho queria saber o significado de inferno, e todos tinham má vontade de explicar. O mais novo admirava o trabalho do pai e queria ser como ele.
No Natal, todos foram para a quermesse da cidade, onde se sentiram muito incomodados com a "civilização", tudo foi uma verdadeira confusão e viram que aquilo não era para eles. A lembrança da injustiça sofrida por Fabiano o marcara muito, e ele ficou bêbado pela rua querendo desafiar os homens, mas acabou dormindo na calçada.
Um pouco depois, Baleia ficou muito doente, e Fabiano decidiu matá-la com um tiro, o que causou muita tristeza à toda a família. Fabiano, alertado por Sinhá Vitória que o patrão estava lhe passando a perna nas contas o confronta, mas acaba aceitando o que ele diz mais pela falta de palavras para contra argumentar o que ele dizia. E nesse contexto a seca aproximava.
Eles sempre viviam com medo deste momento, quanto mais a barragem secava com mais medo eles ficavam. Sempre adiavam a partida na esperança que voltasse a chover, mas um dia pegaram suas parcas coisas, mataram um bezerro e foram embora, sem avisar.
Na estrada como retirantes mais uma vez, Fabiano pensava no que vivera até ali, nos animais que ficaram por ser do patrão. Desta vez havia algo diferente na família: a esperança de uma vida melhor. Ele e Sinhá Vitória conversavam entre si fazendo muitos planos e decidiram que iriam para o sul, para grandes cidades, para que seus filhos fossem para a escola e vivessem de maneira mais digna, sem precisar passar pelo o que estavam passando novamente.
Tudo no livro descreve e lembra a seca no nordeste, desde o estilo do autor, seco, enxuto de palavras e lirismo, até os capítulos fragmentados e sem lógica temporal. A falta de nomes nos garotos representa a desumanização que seca causa. No vestibular pode ser cobrado o que o Soldado Amarelo representa (o governo, que no alto de seu poder despreza as pessoas mais simples). O Patrão pode representar o capitalismo na sua obsessão por mais produtividade e dinheiro, o que o torna sem escrúpulos.
Então peguei uns exercícios para prática, rs.
Zercíço
1. (FUVEST 2001) Um escritor classificou Vidas secas como “romance desmontável”, tendo em vista sua composição descontínua, feita de episódios relativamente independentes e seqüências parcialmente truncadas. Essas características da composição do livro
a) constituem um traço de estilo típico dos romances de Graciliano Ramos e do Regionalismo nordestino.
b) indicam que ele pertence à fase inicial de Graciliano Ramos, quando este ainda seguia os ditames do primeiro momento do Modernismo.
c) diminuem o seu alcance expressivo, na medida em que dificultam uma visão adequada da realidade sertaneja.
d) revelam, nele, a influência da prosa seca e lacônica de Euclides da Cunha, em Os sertões.
e) relacionam-se à visão limitada e fragmentária que as próprias personagens têm do mundo.
Resposta: Letra E. Essa falta de linearidade na narrativa (ou seja, o fato de nenhum capítulo é ligado cronologicamente ao outro) é mais um detalhe que mostra a vida dos sertanejos que fugiam da seca. Vivendo afastados de tudo, eles não tinham noção do tempo, e nem o tratavam como a civilização o tratava. Foi a única obra que Graciliano fez isso: NÃO é típico dele.
2. (FUVEST 2002) Considere as seguintes comparações entre Vidas secase A hora da estrela:
I. Os narradores de ambos os livros adotam um estilo sóbrio e contido, avesso a expansões emocionais, condizente com o mundo de escassez e privação que retratam.
II. Em ambos os livros, a carência de linguagem e as dificuldades de expressão, presentes, por exemplo, em Fabiano e Macabéa, manifestam aspectos da opressão social.
III. A personagem sinha Vitória (Vidas secas), por viver isolada em meio rural, não possui elementos de referência que a façam aspirar por bens que não possui; já Macabéa, por viver em meio urbano, possui sonhos típicos da sociedade de consumo.
Está correto apenas o que se afirma em
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
Resposta: Letra B. Embora "A hora da estrela" não seja mais cobrado, é legal fazer algum mais antigo.
I- Falso, pois A Hora da estrela é bem lírico, já que a autora usa um alter ego seu que fica se questionando o tempo todo o porque da Macabea ser assim, e tal
II- Verdadeiro. Os dois, por não saberem se expressar bem, sofrem várias humilhações e golpes. (Um exemplo pode ser o acontecido com o Soldado Amarelo e a Macabea no médico, na cartomante...)
III- Falso. Mesmo vivendo isolada, Sinha Vitória tem uma aspiração, que é a cama de couro. Desejar alguma coisa faz parte do ser humano.
1. (UNICAMP 1998) Em Vidas Secas, após ter vencido as dificuldades, postas no início da narrativa, Fabiano afirma: “Fabiano, você é um homem...”. Corrige-se logo depois: “Você é um bicho, Fabiano”. Em seguida, encontrando-se com a cadelinha, diz: “Você é um bicho, Baleia”. Ao chamar a si mesmo e a Baleia de “bicho”, Fabiano estabelece uma identificação com ela. Na leitura de Vidas Secas, podem-se perceber vários motivos para essa identificação. Cite dois
desses motivos.
Resposta: Quando Fabiano afirma que é um bicho como Baleia, ele relaciona a dificuldade de desenvolver raciocínios mais complexos, assim como baleia, e o problema com a comunicação.
2. (UNICAMP 2008) Leia o seguinte trecho do capítulo “Contas”, de Vidas Secas.
Tinha a obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia do seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação, espantar-se-ia. (...) Era a sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar
mandacaru, ensebar látegos – aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.
(Graciliano Ramos, Vidas Secas. 103ª. ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2007, p.97.)
a) Que visão Fabiano tem de sua própria condição? Justifique.
Ele era conformado com vida, com visão extremamente determinista. Sofria as injustiças sem protestar, pois sabia que se protestasse com seu modo primitivo de expressão, seria humilhado.
Ele era conformado com vida, com visão extremamente determinista. Sofria as injustiças sem protestar, pois sabia que se protestasse com seu modo primitivo de expressão, seria humilhado.
b) Explique a referência que ele faz aos “homens ricos” com base no enredo do livro.
Os homens ricos são os homens de posse, de poder, que exploravam as pessoas mais simples. No exemplo do livro, Fabiano vendia seus produtos na feira a preços baixíssimos e pedia dinheiro emprestado à seu patrão, que acrescentava juros altos. Sinha Vitória desconfiava que as contas não batiam e quando Fabiano questionava, o patrão começava a usar palavras "difíceis" e dizia para procurar outra fazenda. Fabiano pedia desculpa e resignava-se à situação.
Os homens ricos são os homens de posse, de poder, que exploravam as pessoas mais simples. No exemplo do livro, Fabiano vendia seus produtos na feira a preços baixíssimos e pedia dinheiro emprestado à seu patrão, que acrescentava juros altos. Sinha Vitória desconfiava que as contas não batiam e quando Fabiano questionava, o patrão começava a usar palavras "difíceis" e dizia para procurar outra fazenda. Fabiano pedia desculpa e resignava-se à situação.
3. (FUVEST 2008) Em seu poema chamado “Graciliano Ramos:”, João Cabral de Melo Neto coloca-se no lugar desse escritor e desenvolve quatro afirmações:
I. “Falo somente com o que falo:” (= com os meios que uso para expressar-me, com o estilo que emprego).
II. “Falo somente do que falo:” (= dos assuntos de que trato, dos aspectos que privilegio).
III. “Falo somente por quem falo:” (= em nome de quem falo, a quem dou voz em minha obra).
IV. “Falo somente para quem falo:” (= a quem me dirijo ao escrever, de que modo trato o leitor).
Imitando o procedimento de João Cabral, coloque-se no lugar de Graciliano Ramos e desenvolva cada uma dessas quatro afirmações, tendo como referência o romance Vidas secas.
I. O estilo adotado é seco, despojado, descarnado (no dizer de Alfredo Bosi). Esses aspectos são confirmados pela valorização do período e do parágrafo curtos, pelo predomínio das orações coordenadas e justapostas; pela economia dos elementos
descritivos (que só estão presentes quando imprescindíveis para a situação que nomeiam). A linguagem, reduzida ao mínimo, mimetiza a miséria do meio e dos próprios personagens.
II. Os assuntos de Vidas Secas são a brutalização do homem, resultante dos elementos geográficos (como a seca), mas, sobretudo de uma ordem sócio-político-econômica que divide os homens entre os donos da terra e do poder (latifundiários e governo) e aqueles que só têm a força de trabalho para oferecer (retirantes) e a incomunicabilidade resultante dessa realidade.
III. O narrador do romance Vidas Secas fala em nome desses oprimidos que não têm voz; daí a presença de um narrador em terceira pessoa onisciente, necessário para exteriorizar os anseios, os sonhos e as necessidades desses desvalidos.
IV. O narrador se dirige ao leitor, que, como ele, está distanciado do universo dos retirantes e pode compreender toda a dinâmica (em seus aspectos sociais, políticos e econômicos) dessa trágica realidade. Essa postura do narrador se evidencia claramente no capítulo final do romance, quando a família vislumbra um futuro melhor na cidade grande e o narrador, irônico e visando à percepção do leitor, afirma: "e o sertão continuaria a mandar para a cidade homens fortes como Fabiano e sinha Vitória".
4. (FUVEST 2009) Leia as afirmações abaixo e responda ao que se pede.
I. A dureza do clima, que se manifesta principalmente nas grandes secas periódicas, explica todas as aflições de Fabiano, ao longo da narrativa de Vidas secas, de Graciliano Ramos.
a) Você concorda com essa afirmação (I)? Justifique sucintamente sua resposta.
Não, porque não é só com a seca que Fabiano se preocupa (embora seja o principal problema). Ele também sofre grande opressão social e se questiona por isso.
II. Apesar de quase atrofiadas na sua rusticidade, as personagens de Vidas secas, de Graciliano Ramos, conservam um filete de investigação da interioridade: cada uma delas se perscruta, reflete, tenta compreender a si e ao mundo, ajustando-o à sua visão.
b) Você considera essa afirmação (II) correta? Justifique brevemente sua resposta.
Sim. Embora vivam como bichos, eles tem características fortemente humanas, como o desejo por algo e o questionamento pela situação em que vivem.
As obras desse Graciliano Ramos são um pé no saco! Tive que ler São Bernardo, outra chatice, pqp... Enfim, continue assim Tatchi!
ResponderExcluirBrigada bitch <3
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